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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AUGUSTO CASIMIRO

 

Augusto Casimiro dos Santos (São Gonçalo, Amarante, 11 de maio de 1889 — Lisboa, 23 de setembro de 1967), mais conhecido por Augusto Casimiro, foi um poeta, memorialista, jornalista e comentarista político português e destacado opositor republicano ao regime político do Estado Novo.

Fez parte do grupo que fundou a Renascença Portuguesa (1912) e, dez anos mais tarde, do grupo de intelectuais que lançou a revista Seara Nova, que dirigiu entre 1961 e 1967.

(...)

Augusto Casimiro iniciou-se como poeta publicado em 1906 com a obra Para a Vida, apenas voltando a publicar poesia em 1954 com a obra Portugal Atlântico — Poemas de África e de Mar. Entretanto tinha-se dedicado ao romance, às memórias e ao jornalismo, tendo publicado, entre outros, os romances A Vitória do Homem (1910), A Primeira Nau (1912), À Catalunha (1914), Primavera de Deus (1915), Livro das Bem-Amadas (1921) e A Vida Continua (1942).

Ver biografia completa em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Casimiro

 

 

 

AO QUE TOMBAR PRIMEIRO

Cale-se a voz do Mar, durmam as ondas mansas,
Tombem as velas no convés da nau veleira...
Nasça o luar beijando o berço das crianças,
Venha noite embalar, materna, a terra inteira...

 

Vento, para o corcel, apeia-te! (Descansas
Vendo o astros florir...) — Ó alva amendoeira,
Noiva, — penteia ao luar tuas nevadas tranças...
(Parece dia, dia claro, à tua beira!...)

Astros do céu, florí! — olhos que o luar desmaia,
Astros, lírios do céu!... E a noite perfumai-a
De mistério e Além... (Cala-se ao longe o Mar...)

 

“Terras de Portugal!” (E ponho as mãos ... É a hora
Das orações...) “O céu na terra, ó meu Sol fora,
Pátria das ondas, meu jardim, florido altar!”

 

 

VIVER!

 

Viver!... E o que é a Vida?...

          – Atento, escuto

A primitiva e alta profecia…

E a escutá-la, a sonhar, vou resoluto,

Por caminhos de Amor, com alegria!

E vivo! E na minh’alma, a uma a uma,

Como num quebra mar de encantamentos,

Sinto as ondas bater, – ondas de espuma,

...Evocações, memorias, sentimentos...

 

Amo! – No meu Amor vivo a infinita,

A suprema Beleza, – sou amado!...

E, pelo Sol que no meu peito habita,

Luto! Sinto o Futuro à nossa espera,

Vivo, na minha luta, o meu Amor!...

E sinto bem que a eterna Primavera

A alcançaremos só por nossa Dor!

Sofro! E no meu sofrer, nesta ansiedade

Com que os meus olhos fitam o nascente,

Em devoção, em pranto, em claridade,

– Sonha o meu coração de combatente...

 

Sofrer, lutar, amar – , vida completa,

Piedosa, humilde e só de Amor ungida –

– Meu coração de amante e de Poeta

– Sente em si mesmo o coração da Vida!...

Sonho exaltado e puro, Amor tão grande,

Que me domina todo e me levanta

Às regiões em que o sentir se expande,

E o coração da Vida sonha e canta!

Vida profunda emocionando mundos,

Lágrimas que nos falam de ventura,

Olhos de amado, olhos de amar, profundos

Olhos de devoção e de ternura!...

Olhos que em tudo sentem a Beleza,

A perfeição e o Amor de Ela,

Amor em que se exalta a natureza,

A fonte, a névoa, a flor, a rocha, a estrela!...

 

Amor que tudo envolve, e em que repoisa

O Mundo num regaço de emoção,

E em que se funde a mais humilde coisa

Ao mais sublime e forte coração!...

Vida que num sorriso se condensa,

Num beijo puro sobre um puro olhar,

Que se sorri, se beija… E rude, imensa,

Em plena luta sabe triunfar!...

Vida piedosa e fraternal, – erguida

Ao sol, a abençoar e a redimir –

E que batalha e vence – pela Vida –

As vitórias radiantes do Porvir!...

 

             ( De “A Evocação da Vida”)


 

DO PRIMEIRO REGRESSO

 

Escuta, meu Amor, quando eu voltar
De tão longe, e avistar de novo o Tejo,
O meu Restelo que em saudades vejo
Como outra nova Índia a conquistar;

Quando a minha alma inquieta sossegar
Eu vou indomável, num adejo,
E o amor e o céu e Deus, vivos num beijo,
Iluminarem todo o nosso lar;

 

Quando, meu Santo Amor, voltar o dia
Do primeiro regresso, e a aleluia
Madrugar tua alma anoitecida...

 

Hás de embalar-me sobre o teu regaço
Arrolar, encantar o meu cansaço...
E então será o meu regresso à Vida!

 

                                (1914)

 

 

 

*

 

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Página publicada em novembro de 2021


 

 

 
 
 
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